sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

para o dia de hoje

Tenho lutado diariamente com a vontade de falar. Tem dia que a vontade me consome e tem dia que ela me deixa quieta. Tem dia que choro tem dia que dou risada com mais facilidade.

Tenho esperado o tempo passar; tenho tentado deixar a ansiedade de lado.

Tenho me controlado diante de notícias que recebo. Tenho tomado mais remédios para o estômago.

Tenho ouvido outras músicas, outros ritmos em outros lugares.

Tenho me acostumado com a vida mais sozinha, em uma realidade paralela à imaginada outrora.

Tenho tido mais amor próprio, vivendo a máxima de que “o justo não se justifica”. Tenho dançado mais e sofrido mais.

Tenho sentido mais saudade, mais dor e mais vontade de vida. Vontade de levantar e de me explorar ao máximo.

Tenho alimentado mais carinho e menos mágoa. Tenho boas lembranças. Lembranças gostosas que não tem culpa de palavras que as desconsideraram totalmente.

Tenho estado em um momento mais particular, mais reflexiva, mais crítica e mais consciente.



Venho enxergando as coisas pelo meu ângulo próprio e as aceitando melhor.

Venho entendendo que se entreguei a minha vida em oração, as coisas acontecem de um jeito que às vezes não entendemos e que também não cabe a nós entender.

Venho aceitando melhor os fados da vida e aprendendo a colocar cor nas coisas.

Venho sentindo saudade. Venho sentindo [muito]. Venho me colocando no lado de lá e venho aprendendo a não ter raiva das coisas que me lembram do passado.

Venho aqui pra rezar, pra amansar, pra silenciar o grito interno de raiva e desprezo.

Venho pedindo pra ser mais que um momento errado e um momento incerto. Venho querendo me colocar no lugar cativo de uma boa nostalgia.

Venho aqui pra isso. Pra ser uma presença, uma palavra, um momento, um texto, um sentimento, uma coisa. Venho aqui pra que também seja e para que marque com o bem o fim.

sábado, 6 de outubro de 2012

voar!

pra hoje eu queria a infância, o vento e um lençol da minha mãe amarrado no meu pescoço. era bom brincar de voar...

ida

Vai pelo vazio que deixa
pela falta que perturba, pelo descanso que rouba.
Rouba planos inéditos e egoístas,
rouba sonhos sonhados para existir.

Vai pela noite que já é hora,
hora que demora que reprime.
Hora que assusta e que esvazia.

Vai que já é tempo,
que o desejo se perdeu em algum momento
que o inconsciente trouxe a tona a vontade de solidão.

Vai mas entende que o fim é relativo a vontade do que existe.
Relativamente pertinente e conscientemente
-mente, briga, chora.

Vai mas vem e volta
Como a sombra durante o dia,
como a luz durante a noite
como o medo a cada decisão.

Vai mas me deixa poetisa de uma vida estranha
Vai mas me inspira melodia, tom e cor
Vai mas me entende diante de toda essa loucura.

pra hoje.

Rola, rola bola
Rola, cai e extrapola.
Rola, vaza
-Cai sozinha no canto da boca
Cai amarga no travesseiro
Cai brilhante
Cai no meio da noite.

Rola bola brilhante
Rola de leve e inconstante
Rola sem demora
Rola sem olhar a hora

-Cai vazia e dolorosa
Cai molhada de sentimento
Cai de dor no esquecimento.

Rola bola macia
Rola bola sem fôlego
Rola até o findar da hora
Rola até agora

Rola bola cristalina
Rola bola que sai da retina
Que atravessa a boca e cai no queixo

Rola bola e leva a dor embora
Agora.

domingo, 30 de setembro de 2012

madrugada

Corre na dança leve da tempestade que se aproxima
Chove chuva de razão que derrete o sentimento, de repente.
De repente? DE RE PEN TE.

Vive de cor, de sonho e de ilusão.
Vive de bem com calma e razão.
Vive iludida de desejo
de verdades estranhas do coração.

Venta la fora na lua
Venta na chuva, venta no chão.
Venta leve no sussurro da madrugada.
Venta no galo que canta - anta.

Sempre na dele, olhando de lado, todo tranquilo e observador.
Tinha seu prato, seu copo, sua colher e sua rotina.

Ele estava sempre nos meus aniversários.
Ele brincava de correr atrás da gente com a dentadura solta na boca.
Ele falava italiano e ficava sentado na sua poltrona com seu velho cigarro.

Ele era uma figura forte.
Ele tinha o meu nariz e o meu dedo.
Ele tinha carinho e respeito.
Ele era lindo.

Ele me abraçou essa noite.
Ele deixou saudade.

a saudade vem batendo aos poucos. ainda posso ouvir sua voz, sentir seu cheirinho, e se eu fechar bem os olhos, não sinto a sua ausência; é estranho. tenho orgulho de carregar seus traços e de ter na memória quem você foi. o amor foge ao tempo e a separações, carrego sempre você comigo.


[saudade da figura mais forte da minha vida. saudade de chegar lá e ver ele, e abraçar ele. essa saudade permitiu um sonho muito real essa noite.. ao meu lindo e bom avô Josué Marcos Borsato]



terça-feira, 11 de setembro de 2012

nostalgia

Coisa velha me dá vontade de coisa nova!

É tão bom pegar cadernos antigos e cartas das adolescência e ver de onde nasceu tantas características pessoais. Sinto saudade de épocas remotas, onde a minha maior preocupação era uma prova de matemática. Saudade de ficar horas na varanda escrevendo poesias e ouvindo incansavelmente a mesma música. Saudade de ter tempo e estômago pra pensar na vida, nos sonhos, nos planos.. saudade de me sentir pequena e plenamente acolhida no colo da mãe.
Crescer dói e dói mais ainda refletir sobre cada dor, cada momento. Às vezes não me sinto tão forte, às vezes quero colo.

Ouvi essa vindo pra casa hoje. Me lembro de passar horas na varanda, a noite, cantando essa música. JURAAAVA que cantava bem! haha

Por enquanto- Cássia Eller
http://www.youtube.com/watch?v=XVVmAG0RXmo

E essa vem direto do meu primeiro caderno de poesia:

Valsa

Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.

Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...

- Os ares fogem, viram-se as água,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

Cecília Meireles


ai ai [suspiros].

domingo, 9 de setembro de 2012

À alegoria do cabelo

Mudar dói. Toda e qualquer mudança é rejeitada biologicamente pelo nosso corpo. Eu não vi isso em um artigo científico, eu sinto isso. Acredito que a experiência, nos torna uma boa fonte de certas confirmações.

Enfim, essa dor de mudança me assusta sempre que me deparo com ela. Eram as mudanças físicas da adolescência, que eu custei a aceitar, depois mudanças comportamentais, até eu entrar nos "eixos" de uma vida socialmente aceitável (e que ainda perduram, porém as aceito com mais facilidade). Aí surgem umas mudanças que são mais dificeis de encarar: as mudanças da vida. Muito mais complexas que a minha pobre mentalidade pode dissertar, porém consigo citar um exemplo que me ajudou a perceber tais mudanças: cortar o cabelo.

Pois é, uma coisa tão simples que fez pensar na minha maneira de encarar as coisas. Sempre usei cabelos compridos. Eles são naturalmente ondulados (menos até do que eu consigo aceitar) e eu, desde os 10 anos quando ganhei a minha chapinha, sempre os uso liso. Para mim, além de me sentir mais bonita e segura, sempre achei cabelos lisos mais fáceis de arrumar, acordo e meu cabelo está lá, lindo e liso! Sem precisar usar água, cremes ou gel. A minha adolescência inteira foi assim e eu era capaz de me sentir plenamente infeliz se o meu cabelo estivese ondulado, principalmente na franja. Sério, eu me sentia feia, desarrumada e ganhava um belo mau humor quando chovia, suava ou tinha que lidar com os raros tempos úmidos. Era uma dependência só.

Tô falando "era", mas esse "era" pode ser levado em consideração até na faculdade. Isso mesmo, faculdade. Devo ressaltar que me sinto sim uma mulher segura, inteligente, linda e foda (quase ninguém lê isso, então me gabo mesmo!), mas o meu ponto fraco sempre foi o cabelo. Não vejo isso como um futilidade depois que comecei a me sentir coagida por assumir que fazia chapinha. Fazer chapinha hoje em dia é coisa de "mulher fútil, que não se aceita, que vive a margem das tendências opressoras da moda" e eu não penso nem um pouco assim. Claro que tem essas meninas que fazem isso pelos motivos citados, mas não acho que se deve generalizar, assim como nada deve ser generalizado. Sempre fiz chapinha/ escova por me sentir bem assim, por ser prático e por ter me acostumado com os 15 minutos de secador e mais 15 min de chapinha; pra mim sempre foi um processo rápido que me garantia tranquilidade com a minha aparência, aparentemente por mim mesma, não pelos outros.

Fazer chapinha na minha vida nunca foi um problema. Sei que meu cabelo não é nenhum "ai meu Deus como ela vive com aquilo". Muitas pessoas que me veem na piscina ou na praia e acham ele ótimo e sempre veem com aquela "ai, seu cabelo é tão lindo assim, porque você faz chapinha?" e eu penso em responder com um sermão sobre o "livre arbítrio", mas concordo por preguiça. Enfim, o que me traz a escrever esse texto não é a minha história com a chapinha e sim com o meu cabelo, aliás, com aquilo que eu percebi que é ou era o meu cabelo pra mim.

Cabelo sempre foi a minha vaidade, por tudo que escrevi acima e principalmente porque quando ele ficava como eu queria, eu me sentia SEGURA e CONFORTÁVEL.
Pois é, com um simples penteado eu me sinto sexy, segura, confiante. Eu já tinha percebido isso, mas nunca tinha feito nada pra mudar. Sim, mudar. Como pode uma pessoa se sentir segura só porque o seu cabelo está bom? Isso estava sem limite.

Foi quando, em uma discussão familiar, percebi que eu não tinha o hábito de decidir as minhas coisas por mim mesma. Que sempre que saia da zona de conforto estabelecida, eu sempre refutava, voltava atrás com medo de arriscar. Nunca fiz nada sem consultar meus pais. Sempre fui a certinha, muito temente e dependente das opiniões dos outros.

Sempre tive vontade de cortar meus cabelos. Deixá-los mais curtos, mais moderno, mas sempre que falava isso lá me casa ouvia coisa do tipo "você não tem coragem".
E um dia eu tive. Cortei uns 20 cm de cabelo. As mechas californianas deram lugar a um repicado que deixou meu cabelo solto e livre de qualquer padrão.
E muito além disso. O cabelo cortado é apenas uma alegoria para a transformação que o meu espírito vinha precisando. Precisava de uma mudança, precisa me encontrar com a minha própria vontade. Precisava fazer alguma coisa por mim, e me libertar da chapinha e das opiniões alheias, me ajudou a dar um grande salto. Sempre que me sinto com medo de arriscar, lembro do corte de cabelo e vejo que se fui capaz de arriscar contra a minha própria vaidade (a vaidade merece o texto exclusivo) e ego, do que será que eu não sou capaz por mim?

.

Hoje o sono se faz ausente.
Foi levado para longe pela ansiedade que tanto me machuca,
que tanto me rouba o presente,
que tanto me devora tragicamente,
sem pressa, sem medo.

Hoje tive medo que não mais poder dormir!
- Cadê o sono que demora? Cadê aquilo que me acalma?
Que me traz sonhos lindos, decorados com impossibilidades
e coisas gostosas?

Hoje me deparei com outra de mim. Outra de mim que está fora.
Está fora do ar, fora do mundo. Está dentro de lembranças,
dentro de sonhos afora, lá fora.

Hoje me senti insegura com tudo o que vi. Com tudo o que busquei
e com tudo o que levei pra mim.

Hoje eu vi que nem tudo vai embora, que o mundo é uma bola
e que gira, gira, gira sem fim.

e fim.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

é ela quem grita

Grita calma, grita.
Grita alma, sai logo e gira!
Gira mansa, grita largo, mas grita!
Gri-ta! g-ira! pi-ra!
Solta, volta, brilha!

sábado, 28 de julho de 2012

Confiança.

As vezes eu tento entender o que é isso. Acredito que em alguns momentos eu já vivi situações nas quais eu devo ter confiado em alguém. Confiança verdadeira. Aquela coisa que não depende de mim, mas de instintos superiores que eu já não tenho mais. Não sei quando foi que desligaram em mim o botãozinho que me ajudava a confiar nas pessoas. Lembro que na minha adolescência, ou aburrecência (porque nunca vi uma fase na qual estamos tão suscetíveis a ser burros e a fazer coisas burras), eu sempre dizia que “meu erro era confiar demais, falar demais, me expor demais”. Por algum tempo eu ainda acreditei nisso e ainda errei pelo mesmo pecado. Mas não sei exatamente quando as coisas mudaram. Eu costumava a sofrer por acreditar demais nas pessoas; por esperar demais delas. E de repente (ou não tão de repente assim) me vejo sofrendo [muito] pelo contrário. Não sei mais o que é confiar nas pessoas ou em nada daquilo eu ainda não tenha tomado opinião. Não consigo acreditar que estou bem vestida quando me garantem que estou. Só realmente acredito se eu mesma me sentir bem com aquilo. Não consigo acreditar no que me dizem se eu não sentir que devo acreditar. Desenvolvi um “eu” meio medonho, que às vezes me machuca mais do que me ajuda. Acredito na liberdade que cada coisa tem. Acredito que cada coisa tem um propósito. Acredito e sei confiar no que creio quando sei o que quero. Traço uma meta e consigo acreditar que vou conseguir. Acredito porque sei dos meus limites, das minhas superações. Mas quando me dizem que vou conseguir a coisa muda de figura. Desenvolvi uma trava de confiança. Só consigo acreditar por motivos bem individuais. Sou muito crítica pra acreditar ou pra confiar em coisas que tem gente no meio. Gente é um bicho estranho. Um bicho que em muitas vezes não me atrai, não me conforta e não me passa a mínima confiança. E nesse processo de autoanálise, me coloco como insegura, mas sabendo que não me sinto assim, só me digo assim por não me sentir segura em nada; pelo menos em nada que fale, ande e opine quando não é chamado. Isso não é bom. Queria me sentir menos responsável, menos no “controle” aparente das coisas; poder dividir o peso de um plano, de um sonho. Não queria ter que me preocupar por não confiar. E também não queria sentir tanto uma traição. Traição é um termo épico, forte e cheio de um sentimentalismo barato. Mas não deixa de ser ruim. Talvez tenha sido quando eu comecei a ver a vontade do outro falando mais alto, ou talvez tenha sido quando eu percebi que as pessoas pensam; e pensam diferente de mim. Com outros princípios, outras visões. Tento achar o porquê de tanta insegurança. E pensando assim, teoricamente, não teria mais motivo para ser insegura e eu viveria mais feliz, mais livre e menos receosa. E será que não é aí, exatamente aí, que entra o medo que tenho de descobrir que era melhor viver com o pé atrás, sempre esperando a hora da próxima decepção?

terça-feira, 17 de julho de 2012

e se?

Como foi difícil encontrar a página para começar a escrever hoje. Modelo de blog não deveria mudar, isso deixa a gente confuso na hora do surto e da necessidade de gritar. E o engraçado é que eu queria escrever exatamente sobre mudanças. Mudanças ou ciclos, não sei. Eu sempre tive alguns momentos de pico em minhas crises levemente existenciais. Às vezes me pego olhando pra trás e lembrando da eternidade de cada fase que passei. Tinham coisas que eu pensava que nunca sairiam da minha vida e que todo o meu futuro estava bem ali, na minha frente. Planos, metas. Tudo muito previsível e aceitável. Era bom, era cômodo, era o que eu tinha. De repente, todo aquele contexto muda com uma simples decisão. Uma escolha, um momento, e "pfff", tudo pelos ares. E essa escolha se encaixou em outra e em outra e depois em outra. Quando paro pra pensar no peso de cada escolha, me sinto uma menina mimada e medrosa. Vejo nitidamente o que aconteceu depois de cada decisão e por alguns momentos me arrependo de algumas coisas. Mas em outros momentos, entendo que escolhi de acordo com o meu momento presente e isto assim se justifica. Não tinha como eu saber o que viria depois ou como eu queria estar depois. Tomei cada iniciativa para o "eu" que existia naquele momento. Na minha atual crise, pensar nessas coisas dói um pouco. Dói porque cada "opção" que recusei tem sua vida, sua visão, seus objetivos e amores. Ai é a hora que o que norteia o pensamento é os "e se?" Ah como essa questão machuca! "E se eu tivesse falado?" "E se eu tivesse corrido?" "E se eu tive sido mais corajosa, mais firme e mais sensata?" "E se fosse hoje, como seria?" E se? E se? E se? Dá pra surtar um pouquinho pensando desse jeito. Me orgulho de conseguir encarar de perto cada objetivo seguinte. De assumir uma opção, um alguém, um modo de vida e uma música. Mas tenho medo de que seja só mais um momento, mais uma fase e mais um futuro "e se?". É como se tudo o que eu planejasse estivesse em um plano efêmero e que, quando racionalizado, não fizesse tanto sentido. E nessa hora entra o tal "será?". Será que dessa vez a tendência é institucionalizar os planos? Será que com o tempo as escolhas estão mais sensatas e mais próximas de finalmente se concretizar? Ou será que terei mais um crise por não saber o que fazer com as escolhas que fiz? Queria ser, sem a menor prepotência, um pouquinho mais simples com as coisas. Queria aceitar e me desapegar melhor da nostalgia e do medo. Tem hora que a vontade é voltar pro colo da mãe e deixa ela me guiar de novo; mas penso que isso soa como "ter alguém a quem culpar" o que também não é legal. Penso que mesmo com tanta companhia e com tanta obrigação, não me desprendo de ser egoísta e sozinha. Cada escolha que faço sempre deixo algo, mas sempre fico aqui.