domingo, 30 de setembro de 2012

madrugada

Corre na dança leve da tempestade que se aproxima
Chove chuva de razão que derrete o sentimento, de repente.
De repente? DE RE PEN TE.

Vive de cor, de sonho e de ilusão.
Vive de bem com calma e razão.
Vive iludida de desejo
de verdades estranhas do coração.

Venta la fora na lua
Venta na chuva, venta no chão.
Venta leve no sussurro da madrugada.
Venta no galo que canta - anta.

Sempre na dele, olhando de lado, todo tranquilo e observador.
Tinha seu prato, seu copo, sua colher e sua rotina.

Ele estava sempre nos meus aniversários.
Ele brincava de correr atrás da gente com a dentadura solta na boca.
Ele falava italiano e ficava sentado na sua poltrona com seu velho cigarro.

Ele era uma figura forte.
Ele tinha o meu nariz e o meu dedo.
Ele tinha carinho e respeito.
Ele era lindo.

Ele me abraçou essa noite.
Ele deixou saudade.

a saudade vem batendo aos poucos. ainda posso ouvir sua voz, sentir seu cheirinho, e se eu fechar bem os olhos, não sinto a sua ausência; é estranho. tenho orgulho de carregar seus traços e de ter na memória quem você foi. o amor foge ao tempo e a separações, carrego sempre você comigo.


[saudade da figura mais forte da minha vida. saudade de chegar lá e ver ele, e abraçar ele. essa saudade permitiu um sonho muito real essa noite.. ao meu lindo e bom avô Josué Marcos Borsato]



terça-feira, 11 de setembro de 2012

nostalgia

Coisa velha me dá vontade de coisa nova!

É tão bom pegar cadernos antigos e cartas das adolescência e ver de onde nasceu tantas características pessoais. Sinto saudade de épocas remotas, onde a minha maior preocupação era uma prova de matemática. Saudade de ficar horas na varanda escrevendo poesias e ouvindo incansavelmente a mesma música. Saudade de ter tempo e estômago pra pensar na vida, nos sonhos, nos planos.. saudade de me sentir pequena e plenamente acolhida no colo da mãe.
Crescer dói e dói mais ainda refletir sobre cada dor, cada momento. Às vezes não me sinto tão forte, às vezes quero colo.

Ouvi essa vindo pra casa hoje. Me lembro de passar horas na varanda, a noite, cantando essa música. JURAAAVA que cantava bem! haha

Por enquanto- Cássia Eller
http://www.youtube.com/watch?v=XVVmAG0RXmo

E essa vem direto do meu primeiro caderno de poesia:

Valsa

Fez tanto luar que eu pensei em teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.

Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...

- Os ares fogem, viram-se as água,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

Cecília Meireles


ai ai [suspiros].

domingo, 9 de setembro de 2012

À alegoria do cabelo

Mudar dói. Toda e qualquer mudança é rejeitada biologicamente pelo nosso corpo. Eu não vi isso em um artigo científico, eu sinto isso. Acredito que a experiência, nos torna uma boa fonte de certas confirmações.

Enfim, essa dor de mudança me assusta sempre que me deparo com ela. Eram as mudanças físicas da adolescência, que eu custei a aceitar, depois mudanças comportamentais, até eu entrar nos "eixos" de uma vida socialmente aceitável (e que ainda perduram, porém as aceito com mais facilidade). Aí surgem umas mudanças que são mais dificeis de encarar: as mudanças da vida. Muito mais complexas que a minha pobre mentalidade pode dissertar, porém consigo citar um exemplo que me ajudou a perceber tais mudanças: cortar o cabelo.

Pois é, uma coisa tão simples que fez pensar na minha maneira de encarar as coisas. Sempre usei cabelos compridos. Eles são naturalmente ondulados (menos até do que eu consigo aceitar) e eu, desde os 10 anos quando ganhei a minha chapinha, sempre os uso liso. Para mim, além de me sentir mais bonita e segura, sempre achei cabelos lisos mais fáceis de arrumar, acordo e meu cabelo está lá, lindo e liso! Sem precisar usar água, cremes ou gel. A minha adolescência inteira foi assim e eu era capaz de me sentir plenamente infeliz se o meu cabelo estivese ondulado, principalmente na franja. Sério, eu me sentia feia, desarrumada e ganhava um belo mau humor quando chovia, suava ou tinha que lidar com os raros tempos úmidos. Era uma dependência só.

Tô falando "era", mas esse "era" pode ser levado em consideração até na faculdade. Isso mesmo, faculdade. Devo ressaltar que me sinto sim uma mulher segura, inteligente, linda e foda (quase ninguém lê isso, então me gabo mesmo!), mas o meu ponto fraco sempre foi o cabelo. Não vejo isso como um futilidade depois que comecei a me sentir coagida por assumir que fazia chapinha. Fazer chapinha hoje em dia é coisa de "mulher fútil, que não se aceita, que vive a margem das tendências opressoras da moda" e eu não penso nem um pouco assim. Claro que tem essas meninas que fazem isso pelos motivos citados, mas não acho que se deve generalizar, assim como nada deve ser generalizado. Sempre fiz chapinha/ escova por me sentir bem assim, por ser prático e por ter me acostumado com os 15 minutos de secador e mais 15 min de chapinha; pra mim sempre foi um processo rápido que me garantia tranquilidade com a minha aparência, aparentemente por mim mesma, não pelos outros.

Fazer chapinha na minha vida nunca foi um problema. Sei que meu cabelo não é nenhum "ai meu Deus como ela vive com aquilo". Muitas pessoas que me veem na piscina ou na praia e acham ele ótimo e sempre veem com aquela "ai, seu cabelo é tão lindo assim, porque você faz chapinha?" e eu penso em responder com um sermão sobre o "livre arbítrio", mas concordo por preguiça. Enfim, o que me traz a escrever esse texto não é a minha história com a chapinha e sim com o meu cabelo, aliás, com aquilo que eu percebi que é ou era o meu cabelo pra mim.

Cabelo sempre foi a minha vaidade, por tudo que escrevi acima e principalmente porque quando ele ficava como eu queria, eu me sentia SEGURA e CONFORTÁVEL.
Pois é, com um simples penteado eu me sinto sexy, segura, confiante. Eu já tinha percebido isso, mas nunca tinha feito nada pra mudar. Sim, mudar. Como pode uma pessoa se sentir segura só porque o seu cabelo está bom? Isso estava sem limite.

Foi quando, em uma discussão familiar, percebi que eu não tinha o hábito de decidir as minhas coisas por mim mesma. Que sempre que saia da zona de conforto estabelecida, eu sempre refutava, voltava atrás com medo de arriscar. Nunca fiz nada sem consultar meus pais. Sempre fui a certinha, muito temente e dependente das opiniões dos outros.

Sempre tive vontade de cortar meus cabelos. Deixá-los mais curtos, mais moderno, mas sempre que falava isso lá me casa ouvia coisa do tipo "você não tem coragem".
E um dia eu tive. Cortei uns 20 cm de cabelo. As mechas californianas deram lugar a um repicado que deixou meu cabelo solto e livre de qualquer padrão.
E muito além disso. O cabelo cortado é apenas uma alegoria para a transformação que o meu espírito vinha precisando. Precisava de uma mudança, precisa me encontrar com a minha própria vontade. Precisava fazer alguma coisa por mim, e me libertar da chapinha e das opiniões alheias, me ajudou a dar um grande salto. Sempre que me sinto com medo de arriscar, lembro do corte de cabelo e vejo que se fui capaz de arriscar contra a minha própria vaidade (a vaidade merece o texto exclusivo) e ego, do que será que eu não sou capaz por mim?

.

Hoje o sono se faz ausente.
Foi levado para longe pela ansiedade que tanto me machuca,
que tanto me rouba o presente,
que tanto me devora tragicamente,
sem pressa, sem medo.

Hoje tive medo que não mais poder dormir!
- Cadê o sono que demora? Cadê aquilo que me acalma?
Que me traz sonhos lindos, decorados com impossibilidades
e coisas gostosas?

Hoje me deparei com outra de mim. Outra de mim que está fora.
Está fora do ar, fora do mundo. Está dentro de lembranças,
dentro de sonhos afora, lá fora.

Hoje me senti insegura com tudo o que vi. Com tudo o que busquei
e com tudo o que levei pra mim.

Hoje eu vi que nem tudo vai embora, que o mundo é uma bola
e que gira, gira, gira sem fim.

e fim.